No dia 30 de outubro, uma estudante do 9º ano do ensino fundamental do Colégio Anchieta, em Porto Alegre, gravou parte de uma aula de História sobre o conflito entre Israel e o Hamas. O vídeo viralizou nas redes sociais, levando à suspensão do professor da instituição. Esse incidente suscitou debates sobre perseguição ideológica no ambiente educacional, um tema que tem ganhado destaque à medida que controvérsias políticas se tornam mais presentes em sala de aula.
A gravação inicialmente circulou em sites e grupos alinhados com a extrema-direita e o movimento Escola Sem Partido, mas logo se espalhou por várias redes sociais em todo o país. Além disso, algumas manifestações em frente à escola criticaram o professor e sua abordagem em sala de aula.
O Sindicato dos Professores do Ensino Privado (Sinpro/RS) se envolveu no caso e buscou uma reunião com a direção da escola. De acordo com a diretora do sindicato, Cecília Farias, acusações infundadas de doutrinação e perseguição ideológica a professores têm se tornado mais frequentes. O sindicato defende a liberdade dos professores em suas abordagens educacionais.
Os colegas do professor, representados pelo Centro de Professores do Colégio Anchieta (CPCA), enfatizaram o seu apoio ao docente diante da polêmica. Na nota, eles destacaram que o professor buscou estimular a reflexão dos alunos sobre os conflitos árabe-israelenses, cumprindo seu papel como educador. O CPCA ressaltou que a interpretação equivocada de uma pequena parte da aula resultou em desinformação e levou a um volume significativo de ataques nas redes sociais, gerando angústia e tristeza não apenas no professor, mas também em muitos alunos e seus colegas de trabalho.
Além disso, os professores fizeram um pedido enfático à direção da escola para que seja estabelecida alguma forma de restrição ao uso de celulares em sala de aula, apontando para a importância de preservar a integridade e a veracidade das informações e reflexões no ambiente escolar. Eles argumentaram que a desinformação resultante da permissividade no uso de celulares pode ser prejudicial, e reiteraram seu apoio ao colega e à instituição em meio aos acontecimentos.
O Colégio Anchieta informou que está investigando o ocorrido e ouvindo todas as partes envolvidas.
Leia a íntegra da nota da escola
“Porto Alegre, 31 de outubro de 2023.
O Colégio Anchieta lamenta o ocorrido durante uma aula de História do 9º Ano na segunda-feira, dia 30 de outubro de 2023. Dentro do processo de parceria escola, aluno e família, a Direção está averiguando o episódio, ouvindo pessoas da comunidade educativa e acompanhando os desdobramentos para discernir sobre as providências a serem tomadas.
Entendemos que nossa responsabilidade é agir cuidando dos nossos estudantes e de todas as pessoas que fazem parte de nossa comunidade. Objetivamente, precisamos, em contraponto ao mundo marcado pelo conflito e pelas dificuldades relacionais, estabelecer, o mais breve possível, o clima de normalidade, fundamental para a melhor condução do processo de ensino-aprendizagem.
Estamos cientes de que os conflitos fazem parte do cotidiano escolar, cabendo à Instituição a mediação educativa dos fatos, à luz dos princípios que regem a educação da Companhia de Jesus, pautada pela defesa inconteste do diálogo, da isenção e de uma cultura da paz, não compactuando com qualquer ato de violência ou de terrorismo.
Relembramos que nosso Colégio, em seu Projeto Educativo, caracteriza-se como espaço de construção de conhecimento e de uma convivência plural regida pelo respeito aos princípios, aos valores inacianos e ao bem comum.
Reafirmamos a disposição de manter abertos todos os canais de acolhida, escuta e diálogo com a comunidade escolar.”
Com a informação Portal Extra Classe.