Aos 55 anos, um apenado de Porto Alegre passou em primeiro lugar para cursar contabilidade na UFRGS. Ele está no Patronato Lima Drummond, de Porto Alegre, que abriga pessoas que cumprem pena no regime semiaberto. As aulas na universidade serão à distância até o retorno das presenciais.
A matrícula já está garantida e foi realizada com o apoio de uma técnica superior penitenciária e de uma agente penitenciária. Ele explicou que usou as notas do Enem de 2019 para o vestibular de 2021. A UFRGS implantou um novo formato de ingresso para contemplar os vestibulandos deste ano, uma vez que, devido à pandemia de coronavírus, não foi possível realizar a prova presencial.
O secretário da Administração Penitenciária, Mauro Hauschild, destaca a realização da ampliação de parcerias com universidades gaúchas e de outros estados para bolsas de estudo às pessoas privadas de liberdade. “Além disso, estão sendo abertos novos espaços para projetos de extensão que tenham como propósito ações ressocializadoras que envolvam a comunidade acadêmica e a sociedade em geral. Essas iniciativas atendem à necessidade de se cultivar um olhar sensível à população prisional, para diminuirmos os índices de reincidência, conferindo dignidade e cidadania aos egressos do sistema prisional”, afirma.
Durante 2019, o novo aluno, que não teve a identidade divulgada, frequentou o Resgate Popular, um curso pré-vestibular gratuito ministrado por formandos e professores da universidade, na Vila Planetário, com autorização de um juiz. Com o tempo livre no alojamento, ele se aprofundava nos estudos para buscar o diploma. Quando tinha 19 anos, ele já havia feito dois semestres de Contabilidade na PUCRS, antes de ser preso. “Terminei o antigo segundo grau aos 17 anos”, conta.
A delegada penitenciária da 10ª Região (Porto Alegre), Patrícia Picolotto, frisa que é importante valorizar o esforço dos apenados. “Demonstrar estas histórias de vida pode servir de exemplo a todos. Assim, a educação mostra que pode ser a maior ferramenta de inclusão social e de transformação de vidas pós muros”, incentiva.
Conforme a administração do Patronato Lima Drummond, tudo começou quando ele admitiu para um magistrado que queria mudar de vida, só precisando de uma oportunidade para reconstruir a sua vida longe da criminalidade. Ele cumpriu pena no regime fechado na Cadeia Pública de Porto Alegre e na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas.
Ao progredir para o regime semiaberto, o apenado encontrou a possibilidade de mudança. Lá recebeu acompanhamento psicossocial e jurídico, etapa muito importante em seu processo de ressocialização. “Desde que ingressei no sistema prisional, percebi que poderia mudar, estudar e sair do crime”, disse. Assim, com a individualização de sua pena, obteve saídas temporárias, o que ajudou a fortalecer vínculos familiares, inclusive exercendo a paternidade
Fonte GBC