O último debate entre os candidatos à Prefeitura de Porto Alegre, realizado na noite desta quinta-feira (12) por GaúchaZH, era para ser a última oportunidade da população local conferir o confronto direto entre os participantes da disputa. Infelizmente, assim como ocorrera em outros debates, o encontro foi marcado por mais uma rodada de violência machista e misógina do candidato Rodrigo Maroni (PROS) a Manuela D’Ávila (PCdoB), com ataques pessoais que ignoraram as perguntas que eram feitas a ele e que tentou incluir outros candidatos na sua cruzada pessoal contra a ex-correligionária.
Ao longo do debate, os mediadores tentaram chamar a atenção dos candidatos para que se mantivessem na discussão propositiva, mas não obtiveram sucesso com relação ao referido candidato. O debate também foi marcado pela omissão dos demais participantes, com exceção de Fernanda Melchionna (PSOL) que resumiu com precisão o que deveria ser claro para qualquer postulante ao Paço Municipal: “Divergência e machismo são coisas diferentes”.
Como resposta, Fernanda também passou a ser alvo de agressão verbal do candidato, assim como a jornalista Rosane de Oliveira, que no Twitter chamou a atenção para o baixo nível das falas dele.
Os ataques garantiram a Manuela dois direitos de resposta. Além disso, na última pergunta do terceiro bloco, quando só restou a ela perguntar a Maroni, abordou a questão do feminicídio e as propostas de ampliar as casas de proteção para mulheres vítimas de violência, descentralizando os serviços. Destacou, ainda, que a violência contra as mulheres começa, via de regra, com a agressão verbal.
Quando se debateu
O debate de GaúchaZH foi dividido em três blocos de perguntas e respostas, sendo o primeiro e o último dedicados a perguntas entre os candidatos. No segundo bloco, eles tiveram que responder a perguntas de ouvintes da emissora.
Foi justamente nesse momento em que o debate mais se aproximou de tocar em pontos relevantes para a cidade. Ao ser perguntada sobre como resolveria a situação dos flanelinhas no Centro de Porto Alegre, Manuela alertou para a falta de empregos na cidade que levam para a informalidade e disse que iria implementar um programa de compras estatais de pequenos comerciantes para estimular a geração de renda. Em pergunta semelhante, a respeito do aumento do número de pessoas em situação de rua, Gustavo Paim (PP) destacou que pesquisa realizada em 2016 apontou que a cidade tinha cerca de 4 mil pessoas em situação de rua e que o cenário só piorou durante a gestão de Nelson Marchezan Júnior (PSDB), da qual foi vice-prefeito. Perguntada sobre o que faria para enfrentar o grande número de ambulantes na cidade, Juliana Brizola (PDT) afirmou que iria promover um programa de obras públicas.
Marchezan recebeu uma pergunta sobre a má qualidade da pavimentação das ruas da cidade e afirmou que o orçamento do próximo ano prevê investimentos iguais aos 15 anos anteriores somados, quatro dos quais foi prefeito. Fernanda recebeu a pergunta sobre a situação nas ilhas e criticou a precariedade dos serviços básicos na região. Ao ser perguntado sobre o Mercado Público, Sebastião Melo (MDB) disse que sua proposta era entregar a gestão para os atuais permissionários, que, como contrapartida, ficariam responsáveis por investir os R$ 10 milhões que ele diz faltar para a conclusão das obras de recuperação do espaço.
A respeito do retorno das aulas presenciais na rede municipal, João Derly (Republicanos) destacou que há uma pesquisa que aponta que 81% da população não quer o retorno das aulas físicas, mas disse que iria conversar com pais, diretores de escola e professores para organizar a retomada. Valter Nagelstein (PSD) foi perguntado sobre o que faria em caso de segunda onda da epidemia de coronavírus e disse que não fecharia nenhum estabelecimento comercial e investiria na qualificação da estrutura hospitalar, citando, como exemplo, a compra de mais respiradores. Maroni foi perguntado sobre o comércio da Cidade Baixa e disse que não poderia prometer nada.
Confrontos de ideias
Em meio à misoginia vista nos blocos de perguntas entre os candidatos, o confronto de ideias divergentes, talvez o momento mais esperado de um debate eleitoral, ocorreu em poucas oportunidades. Notadamente, quando Marchezan opôs sua visão sobre a gestão da saúde básica àquela das candidatas Manuela e Fernanda.
Nos dois momentos de confronto com elas, o prefeito fez a defesa da terceirização das unidades de saúde e afirmou que a medida ampliou o atendimento para milhares de portoalegrenses, bem como ajudou a reduzir as filas para a marcação de consultas. Manuela e Fernanda acusaram o prefeito de vender uma cidade que não existe, criticando a demissão dos trabalhadores do Instituto Municipal da Estratégia da Saúde da Família (Imesf) em meio à pandemia do coronavírus e a falta de estabilidade na gestão municipal de saúde.
Para além desses momentos, o debate também foi marcado por uma tentativa de alguns dos candidatos, notadamente Paim e Nagelstein, tentarem associar Manuela ao “fantasma do comunismo” e por críticas ao prefeito Marchezan por sua alegada incapacidade para dialogar com os diversos setores da cidade.
Contudo, diversos temas importantes para a cidade, como a mobilidade urbana, que inclusive foi citada pelos mediadores entre os blocos, acabaram não ganhando espaço na discussão ou sendo citados apenas brevemente.
Os candidatos Júlio Flores (PSTU) e Montserrat Martins (PV) não foram convidados para o debate porque seus partidos não têm representação na Câmara de Deputados. O candidato Luiz Delvair (PCO), que teve o registro indeferido, mas concorre sob recurso, também não participou pelo mesmo motivo. Também não participou José Fortunati (PTB), que teve a chapa impugnada e anunciou que está deixando a disputa na quarta-feira (11).
O Sul 21