A senadora Simone Tebet (MDB-MS), que ficou em terceiro lugar na eleição de primeiro turno para a Presidência, deve anunciar nos próximos dias apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que concorre contra o presidente Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno. Ao longo da campanha eleitoral, a emedebista deixou claro que considera Bolsonaro um mal maior que o petista.
Na noite de ontem, 2, a parlamentar disse que não vai ficar neutra nesta fase da eleição. “Eu sou uma política que respeita o processo partidário, o processo eleitoral, mas, no máximo, em 48 horas, vocês decidam porque eu vou me pronunciar”, disse ela ao fazer seu primeiro pronunciamento após o resultado do primeiro turno. Em entrevista ao G1 em junho, Tebet já disse que “estará no palanque que defende a democracia” caso não fosse ao segundo turno.
Reservadamente, ainda durante a campanha de primeiro turno, Tebet confidenciava que não tinha dúvidas entre Lula ou Bolsonaro. A senadora teve uma atuação crítica contra o presidente durante a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19 no ano passado. Tebet não tem agenda ou reunião oficial nesta segunda, 3. A senadora está em São Paulo e vai aguardar o posicionamento dos partidos que apoiaram a candidatura dela.
Os presidentes do PSDB e Cidadania, Bruno Araújo e Roberto Freire comandam siglas em que há pressão para aderir a Lula no segundo turno.
Os partidos de sua coligação ainda não decidiram o que irão fazer. O PSDB anunciou que vai reunir a direção nacional na terça-feira, 4, para decidir se libera os filiados para apoiarem Lula ou Bolsonaro. O Cidadania, que faz parte de uma federação com os tucanos, também se reunirá amanhã. Já o MDB ainda não tem nada marcado para deliberar sobre o assunto.
Alas das três legendas pressionam para uma posição unificada a favor de Lula. O presidente do Cidadania, Roberto Freire, declarou que há uma preferência pelo petista, mas disse que não adianta reunir os partidos logo se “cada um vai para um lado”. “Estou trabalhando para ver se a gente uma posição conjunta. Não precisa ter essa pressa. Precisa ter mais eficiência e eficácia nessa decisão”, disse ao Estadão.
Dentro do MDB, o ex-presidente do Senado e deputado federal eleito Eunício Oliveira (MDB-CE), que apoia Lula desde o primeiro turno, avaliou que o apoio público de Simone Tebet ao petista é algo importante para este segundo turno. “Muito importante. É até a hora de ela juntar o máximo do partido, junto com Baleia (Rossi, presidente do MDB). É o papel que ela tem até em torno de uma liderança que ela conquistou nas ruas”, declarou.
Eunício disse que vai conversar o presidente do MDB e sugerir a ele que o partido embarque oficialmente na candidatura do petista. “A eleição acabou ontem à noite, agora vamos para Brasília todos conversar entre nós, discutir, encontrar o melhor o caminho”, contou. “Tem que tomar posição a favor de Lula, a favor do Brasil. A pior posição para um partido político é não ter posição. MDB foi um partido político que teve posição até contra a Ditadura Militar. Tem que ter posição”. O MDB tem uma ala, concentrada no Sul, que é favorável a Bolsonaro, mas os principais nomes de expressão nacional da legenda são próximos de Lula.
Já no PSDB há uma pressão desde o primeiro turno da eleição que a legenda liberasse os filiados para apoiar qualquer um dos dois candidatos. Uma ala mais ligada a velha guarda tucana tende apoiar Lula, já os deputados federais da legenda resistem a endossar o petista e preferem Bolsonaro. O presidente do PSDB, Bruno Araújo, passou a ser bastante criticado por uma parcela de tucanos e aliados por tentar antecipar uma decisão de neutralidade. A ideia da ala lulista é mostrar que o PSDB não tem nada a ganhar caso Bolsonaro se reeleja. Um exemplo citado foi o caso de Eduardo Riedel (PSDB), que se associou a Bolsonaro, acabou sendo traído pelo presidente e agora vai enfrentar o bolsonarista Capitão Contar (PRTB) no segundo turno da eleição para governador do Mato Grosso do Sul.
Nomes como José Serra (PSDB-SP), Tasso Jereissati (PSDB-CE) e José Aníbal (PSDB-SP), que apoiaram Tebet no primeiro turno, agora são procurados para estarem com Lula. O ex-senador e ex-chanceler Aloysio Nunes (PSDB-SP) foi o primeiro a puxar a fila e declarou voto no ex-presidente logo no primeiro turno. Nunes apoiou a tentativa de reeleição do governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), mas agora, com a derrota do tucano, vai apoiar Fernando Haddad (PT) para governar o maior Estado do País. O ex-senador criticou Tarcísio de Freitas (Republicanos), candidato bolsonarista que vai enfrentar Haddad. “O Tarcísio é um delegado de Bolsonaro no Estado de São Paulo. Uma foto que você vê isso é ele andando na garupa de Bolsonaro na última motociata da campanha”.
O PSDB derreteu na eleição de 2022 e vai deixar o governo paulista pela primeira vez em 28 anos. “O resultado nosso foi uma tragédia política”, disse Aloysio. O ex-senador vê com preocupação a nova configuração do Congresso, que terá maioria bolsonarista, e disse que se o presidente se reeleger, a democracia corre sério risco. “Estou muito preocupado com o que pode acontecer se Bolsonaro ganhar. Vai nomear quatro ministros do Supremo, já nomeou dois. Com a votação que os bolsonaristas tiveram na Câmara e no Senado ele vai criar um partido político. Ele fracassou nisso na primeira vez, mas com essa base que ele obteve nas eleições parlamentares, ele já dispõe já de todas as condições para criar um partido político”.
De acordo com o tucano, a reeleição de Bolsonaro é o pior cenário para as instituições democráticas. “Um líder autoritário, hostil a democracia, na cabeça de um partido político reacionário e tendo já tomado conta do Supremo Tribunal Federal, estamos em um cenário de ameaça de morte da democracia. É assim que as democracias morrem. Se ganhar isso vai acontecer, vai virar um fuhrer”.
O ex-senador disse que o PSDB até pode fazer oposição caso Lula seja eleito, mas que o dever maior é impedir que Bolsonaro ganhe a disputa pelo Palácio do Planalto. “Se for para o lado do Bolsonaro, não tem mais futuro nenhum. Ele poderia ser, desejo que seja, um espaço de oposição (a Bolsonaro). Se o Lula ganhar, pode ser oposição também, mas uma oposição como nós fizemos no primeiro e segundo governo Lula, que não nos negamos a colaborar em pautas positivas”, avaliou.
Fonte Terra