Referência no atendimento em saúde mental em Porto Alegre, o Pronto Atendimento da Cruzeiro do Sul (PACS) diagnosticou, nesta quinta-feira (16), cinco pacientes contaminados pelo novo coronavírus. Os pacientes são três homens e duas mulheres, com idades em torno de 25 anos, e que compartilhavam o mesmo espaço que outros pacientes sem coronavírus. Ainda na sexta, três deles foram transferidos: um para o Hospital Vila Nova, outro para o Hospital Espírita e o terceiro foi levado por familiares para isolamento em casa.
Alberto Terres, Técnico em Laboratório de Análises Clínicas e membro da Comissão de Trabalhadores do PACS, diz que os pacientes que chegam para atendimento em saúde mental deveriam ser testados antes de internarem. “Existe falha no protocolo”, aponta. Para ele, o Plano de Contingência apresentado em junho pela Prefeitura de Porto Alegre tem problemas de orientação e protocolos específicos.
Como exemplo, Terres cita o olhar quase exclusivamente voltado para a ocupação dos leitos de UTI, sem considerar o trabalho na rede de atenção básica, desestruturada nos últimos anos. O avanço da contaminação e das mortes por covid-19 na capital gaúcha, verificado desde meados de junho, mostra que o vírus tem circulado fortemente na periferia da cidade, junto às populações mais vulneráveis. “Não existe distanciamento social na periferia. Muitas famílias vivem em casas pequenas, às vezes com um cômodo”, lembra Terres.
Para conter a epidemia nas periferias, ele destaca que seria importante o trabalho do agente comunitário, orientando a população a se proteger. Porém, com a desestruturação da rede de atenção básica, isso não está ocorrendo. “Eles não estão fazendo prevenção, estão dentro das unidades fazendo trabalho de agente administrativo, fazendo cadastro. A população está atirada”, enfatiza.
Até a noite de sexta, dois pacientes com coronavírus ainda estavam no Plantão de Emergência em Saúde Mental do PA da Cruzeiro do Sul, aguardando a transferência para algum hospital, pois não podem permanecer no mesmo ambiente dos outros paciente devido ao risco de ampliar a contaminação, incluindo os trabalhadores da saúde. O problema, aponta Alberto Terres, é a falta de ambiente adequado para receber pacientes psiquiátricos. “A gente está procurando leitos que recebam esses pacientes, que são pacientes com transtorno mental, que precisam de cuidados especiais”, explica.
Além dos problemas na rede de atenção básica, Terres chama atenção para a falta de testes entre os trabalhadores da saúde, que estão na linha de frente do enfrentamento da epidemia. Atualmente, a Prefeitura tem a orientação de somente testar profissionais de saúde com sintomas. No caso específico do surto no Plantão de Emergência em Saúde Mental da Cruzeiro do Sul, a Prefeitura comunicou que os trabalhadores que tiveram contato com os pacientes positivos para covid-19 já foram testados.
Luciano Velleda | Sul21