A Polícia Civil informou na tarde de hoje que identificou sete dos oito corpos que chegaram ao Posto Regional de Polícia Técnico-Científica em São Gonçalo, região metropolitana do Rio de Janeiro. Todos foram retirados por moradores, na manhã desta segunda-feira (22), de uma região de mangue do Complexo do Salgueiro. Nenhuma das identidades foi revelada.
De acordo com a Polícia Civil, cinco dos homens já identificados possuem anotações criminais. A corporação não informa, porém, as tipificações dos crimes. Em nota, a Civil informou que havia dois sem anotações criminais e um deles vestia roupa camuflada, como os demais. Vídeos dos corpos, que circulam nas redes sociais, não permitem identificar a vestimenta dos mortos.
A Polícia Militar afirma que as vítimas morreram em um confronto, ocorrido em uma operação realizada um dia após a morte de um policial, mas a versão dos moradores contradiz a versão oficial.
Uma moradora, em relato ao UOL, afirma que viu um dos homens degolado e com as mãos para cima. Vizinhos ao mangue denunciam que os corpos tinham sinais de tortura, como degola e ferimentos a faca. Outra moradora afirma que viu corpos com sinais de esfaqueamento, ao serem retirados do mangue. Com a demora da entrada das autoridades para retirada dos corpos, coube aos moradores entrar no mangue, com lama na altura do peito, para fazer o resgate. Todos já estavam mortos.
O que diz a PM
Houve uma ação do Bope (Batalhão de Operações Especiais) contra traficantes no domingo (21), um dia após um policial militar ser morto na região. Segundo a PM, o sargento Leandro Silva morreu quando equipes do Batalhão de São Gonçalo foram atacadas perto de uma área de mangue.
A ação de domingo ocorreu após a PM receber informações de que um dos homens responsáveis pelo ataque que vitimou Leandro ainda estava ferido no interior da comunidade. A corporação afirma que foi até o conjunto de favelas para uma operação de estabilização.
Ainda no domingo, segundo a PM, houve confronto e um homem morreu no local. A corporação afirma que ele foi reconhecido como um dos envolvidos no ataque criminoso à guarnição da PM que vitimou o sargento Silva.
Uma idosa de 71 anos também ficou ferida. Carmelita Francisca de Oliveira foi atingida no braço, levada para o hospital, medicada e liberada.
O diretor da Faferj, David Gomes, informou que tem acompanhado denúncias de violência policial na comunidade do Salgueiro há meses. Há cerca de 15 dias, a federação reuniu-se com representantes do governo do Estado do Rio para pedir melhorias na comunidade.
“Naquela reunião, já denunciamos que a violência policial estava grande na comunidade e as lideranças pediam para o governo entrar na comunidade com projetos sociais e obras de urbanização. Mas o que vemos é mais uma chacina”, afirma Gomes.
PM não fez varredura após ação
O porta-voz da PM, o tenente-coronel Ivan Blaz disse ao UOL que, durante a ação, suspeitos de serem traficantes se refugiaram na área da mata e, após cessarem os supostos confrontos, não foi feita uma varredura no local devido à complexidade da região.
Segundo Blaz, houve uma ocupação na quinta-feira (18) na região e foram registrados confrontos durante três dias. De acordo com ele, a operação foi informada ao Ministério Público e tinha como objetivo combater a criminalidade.
Segundo a PM, foram apreendidos na ação duas pistolas, 14 munições calibre 9 milímetros, 56 munições de fuzil calibre 762, cinco carregadores (dois para fuzil e três para pistola), um uniforme camuflado, 813 tabletes de maconha, 3.734 sacolés de pó branco e 3.760 sacolés de material assemelhado ao crack. A ocorrência foi encaminhada para a delegacia da área.
Defensoria ouvirá famílias
A Defensoria Pública do Rio disse que recebeu relatos sobre a operação no Complexo do Salgueiro ainda na noite de ontem. A ouvidoria comunicou o caso ao Ministério Público para adoção de medidas cabíveis. A Defensoria disse ainda que está em contato com as lideranças locais prestando orientações necessárias. O defensor público geral, Rodrigo Baptista Pacheco, disse no Twitter que o órgão acompanha caso.
Fonte UOL