Sobrevivente conta como foram os momentos antes e depois do acidente causado pelo temporal
Era para ser mais um dia de trabalho para o caxiense Arlei Lopes Ferreira, 47 anos. Na manhã desta quarta-feira (30) ele chegou na empresa onde atua como motorista há cerca de 10 anos e recebeu a tarefa de levar um freezer para um estabelecimento comercial em Gramado, município distante 68 quilômetros de Caxias.
Naquele dia, um novo colega iniciava na função de motorista, então, Ferreira posicionou-se para a viagem no banco do carona para deixar o ‘novato’, como ele chamou, pilotar. A dupla saiu da empresa pouco depois das 8h em uma Strada e seguia pela BR-116, quando na altura do Km 166,5, no distrito de Vila Cristina, um pinheiro atingiu a cominhonete.
Segundo registro feito pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) o acidente ocorreu em torno de 9h20min. Ferreira conta que não lembra do momento em que a árvore caiu sobre eles, que acordou cerca de uma hora depois e pode acompanhar angustiado por meia-hora o trabalho dos bombeiros para retirá-los das ferragens.
Na tarde desta quinta, Ferreira aceitou receber a reportagem no Hospital Pompéia, onde está internado e relatou como tudo aconteceu
Ele teve fratura na perna direita, lesão na esquerda e trincou o braço direito. Nesta sexta, passará por cirurgia.
Entrevista:
O que o senhor lembra do acidente?
Arlei Lopes Ferreira: Na realidade, eu não lembro como veio aquele pinheiro. Só lembro depois que acordei. Foi um piscar de olhos, apaguei e quando acordei vi aquele pinheiro em cima de nós e aquela lataria toda me esmagando. Antes disso, estava tudo bem. A gente estava descendo conversando. Foi de repente. Pelo que os bombeiros disseram fiquei mais ou menos uma hora desacordado.
E como o senhor estava quando acordou?
Tinha muita gente. O pessoal do Samu também já estava ali. Estava com as duas pernas presas nas ferragens e esse braço direito preso também e a cabeça não mexia, estava imprensada. Só mexia o braço esquerdo. Estava meio caído para o lado esquerdo. O resto do corpo não mexia nada. Estava tudo esmagado. Quando acordei vi aquela árvore em cima do meu colo. Eu disse: Meu Deus, o que é isso? O que aconteceu?
O seu colega que estava dirigindo estava acordado?
Sim, ele estava ciente, conversava comigo porque eu estava desesperado, chorando, pedindo para Deus me socorrer. Ele tentava me manter acordado. Ele e o bombeiro que colocou a tala no meu pescoço ficou conversando comigo, fazendo pergunta para mim não dormir. Na realidade, eu já estava perdendo as forças, entregando meu espírito para Deus. Foi tenso.
O senhor viveu meia hora de tensão, então, durante o socorro?
Muita. Parecia uma eternidade. Pedia para eles retirarem aquele pinheiro de cima, para retirarem minhas pernas que não aguentava de dor. Daí, o bombeiro dizia: Calma, seu Arlei, fica tranquilo, o senhor está vivo, é o que importa. Mas eu achei que estava sem pernas, já. Foi terrível. Só queria sair dali. Quando me tiraram dali que eu vi o teto da caminhonete ser aberto, tiraram aquele pinheiro, aquele peso de cima de mim, deu aquela aliviada… eu disse: Agora estou vivo, agora sei que não vou morrer.
Os bombeiros precisaram abrir toda a caminhonete para retirá-los…
Foram retirando pedaço, por pedaço. Foram bem profissionais. Na oração que fiz lá, pedi: abençoa todo esse povo, esses trabalhadores. Quando me colocaram na maca, o povo que estava em volta chegou a bater palma.
A árvore caiu muito perto de vocês, sobre o painel?
Ela pegou em cima do capô, livrou o motorista e pegou na quina do meu lado. A árvore ficou no meu colo, em cima das minhas pernas. E o motorista, o volante veio e imprensou a perna dele. Só que, eu, veio a lataria do meu lado direito e aquela árvore gigantesca nas minhas pernas. Tiveram que cortar em quatro pedaços para poder mover e, quando tiraram o pinheiro, consegui mover a perna esquerda. A outra ficou imprensada ainda. mais 10 centímetros para frente, teríamos morri os dois. Daí, ela caía em cima de nós mesmo. Ela caiu em cima do capô e pegou a minha parte um pouco mais. Se fosse 10 centímetros para frente, acho que não estaríamos aqui contando essa história.
O senhor viu as fotos da árvore sobre o carro?
Vi, me mandaram. É de não acreditar, né?! Saber que estava ali. Comentei uma foto: Bah, a visão de fora chega a ser pior do que a visão de dentro lá. Naquela hora pensei: eu morri naquela uma hora ali e Deus me ressuscitou. Era a sensação que eu tinha na hora.
O senhor vai continuar dirigindo?
É o que sei fazer, né?! Trinta anos de motorista. Tenho que só agradecer. Estou aqui, estou vivo e se é para ficar aqui, vamos continuar trabalhando.
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Fonte e Foto: Pioneiro