A 1ª Delegacia de Polícia Civil de Viamão já recebeu informes sobre mais de 20 cães que morreram, supostamente, por ingestão de ração mofada.
Pelo menos 11 mortes já foram formalmente confirmadas, algumas com laudos de laboratórios indicando que os animais comeram alimentos contaminados por aflatoxina, um tipo de toxina gerada por fungo em produtos velhos ou mal acondicionados, como revelou GZH no início da semana. Policiais buscam a oficialização dos demais casos, via depoimentos.
O alerta começou após a misteriosa morte de 11 cães em menos de um mês, em um abrigo para animais em Viamão, em menos de um mês.
Exames em três deles apontam como provável causa das mortes a ingestão de ração contaminada com aflatoxina. Os exames detectaram essa substância tanto no corpo dos cachorros como em lotes da comida, enviados pelo dono do abrigo para exame.
Entre os laboratórios que realizaram os testes está um da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e outro da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). A ração sob suspeita é da marca Bocão.
O abrigo de Viamão, num sítio, é especializado em cuidar de cães que foram adotados, em situação de rua. Os protetores resgatam os animais, os entregam ao abrigo e contribuem financeiramente com o tratamento deles. Eram mais de 40 cachorros lá, antes das 10 mortes.
O proprietário do abrigo de cães, Marcelo Artigas, prestou depoimento na Polícia Civil na quinta-feira (1º). Ele pretende exigir ressarcimento da indústria de rações, além de interdição dos lotes de comida suspeitos. Artigas assegura que a loja onde compra o alimento armazena o material em boas condições e acredita que a contaminação se deu no processo de fabricação da ração.
O advogado de Artigas, Alex Gucciardo, pretende ingressar com ação por danos morais contra a fabricante de rações na próxima semana. Ele anexará como provas depoimentos dos donos dos cães e, também, os exames laboratoriais. Ele ainda disse que pretende levar para depor na 1ª DP de Viamão um dono de canil que tem 110 animais e metade teria ficado doente por ingestão da ração suspeita.
– Morreram dezenas, sabemos disso. Tentamos convencer os donos dos animais a registrarem a ocorrência na polícia – diz Gucciardo.
A delegada Jeiselaure de Souza, titular da 1ª DP de Viamão, confirma que já recebeu mais de 20 relatos de mortes de cães, mas nem todos foram formalizados. Três deles conversaram com a reportagem e serão chamados a depor. Ela pede que os tutores dos animais formalizem os casos na delegacia. A policial trabalha por enquanto com laudos fornecidos pelos donos dos cães, mas vai pedir mais perícias.
A delegada já compartilhou a documentação sobre o caso com a Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr) e vai fazer o mesmo com o Ministério Público. É cogitado pedido de apreensão de lotes suspeitos.
– Investigamos possível adulteração de produto (a ração), um crime contra as relações de consumo previsto no Artigo 273 do Código Penal. E vamos averiguar também possíveis infrações da legislação ambiental – antecipa Jeiselaure.
Existem inquéritos abertos também pela Polícia Civil em Porto Alegre (5ª Delegacia) e Flores da Cunha.
CONTRAPONTO
O que dizem os fabricantes da ração:
Iago Pereira, advogado da Andrealan Nutrição Animal, informa que a empresa recomenda a suspensão imediata do consumo da ração em todos os casos relatados, assim como sua comercialização e a distribuição dos lotes de produção. Ele diz que a indústria realiza um “rigoroso processo de investigação” quanto à suposta relação de consumo das rações com os fatos noticiados e presta informações às autoridades competentes.
Pereira reclama de não ter tido ainda acesso aos inquéritos que tramitam a respeito das mortes de cães e vai pedir isso às autoridades. Ele reafirma as “boas práticas” da indústria e pede que, caso qualquer consumidor tenha verificado alguma anormalidade após o consumo dos produtos da Andrealan, contate a empresa através do telefone (48) 3657-0051. “Não há utilização de insumos mal conservados, podres, mofados ou em qualquer condição semelhante, em nosso processo de industrialização”, conclui o advogado.
Fonte G1