Foi concluída a perícia no áudio de WhatsApp atribuído ao menino Rafael Winques, 11 anos, assassinado em Planalto, no norte do Estado, em 2020. O arquivo, cuja data é posterior a suposta data do crime, foi ‘encontrado’ pela defesa da mãe do menino, que é acusada de matar o filho, às vésperas do julgamento, que ocorreria no mês passado. A sessão acabou cancelada após a defesa de Alexandra Salete Dougokenski, 34 anos, se retirar do plenário diante da negativa da juíza que presidia o júri em determinar a realização de uma perícia no material. Alexandra responde ao processo presa.
Com o pedido de perícia negado pela Justiça, a defesa de Alexandra, que é comandada pelo advogado Jean Severo, contratou peritos particulares, com vasta experiência, para analisar o material. Foi este resultado que chegou às mãos dos advogados nesta terça-feira, 26/4, ao qual o Jornal CIDADE teve acesso. O documento confirma, primeiramente, a autenticidade do áudio, e por fim assegura que a voz é mesmo do menino Rafael.
Com isso, comprova que, no mínimo, houve uma falha grave na investigação do crime. De acordo com o Ministério Público, Rafael foi morto entre as 22h30 do dia 14 de maio e 2h30min do dia 15 de maio naquele ano. O áudio, no entanto, comprova que o menino estava vivo às 20h33 do dia 15.
Parecer técnico
A perícia foi realizada pelo escritório Sergio Hernández Perícias Forenses, sediado em São Paulo, e é assinada pelos especialistas Sergio Andrés Hernández Saldias, Raul Ubirajara Macena Cardoso, Felipe Sanhueza Rojas e Ricardo Caires dos Santos.
O áudio foi extraído do telefone celular do pai do menino, Rodrigo Winques, através do Cellebrite, um dispositivo de extração, transferência e análise de dados para telefones celulares e dispositivos móveis utilizado pelo Gabinete de Inteligência e Assuntos Estratégicos da Polícia Civil (GIE). Os peritos confirmaram que o arquivo – tratado pelos peritos no laudo como ‘interlocutor questionado’ – foi criado no dia 15/05/2020 às 20:33:37(utc-3), e que pertencia a uma conversa de WhatsApp que foi deletada, porém, a mensagem não foi apagada da pasta padrão que a ferramenta utiliza para armazenar áudios enviados por chat, e pode ser recuperada.
A segunda parte da análise teve o objetivo de confirmar se Rafael era mesmo o autor da mensagem através da análise de voz, ao comparar o material com duas amostras – dois vídeos do menino Rafael aos quais os peritos se referem como ‘interlocutor padrão 1’ e ‘interlocutor padrão 2’. Entre os quesitos analisados estão sotaque e fonética, que se apresentam semelhantes. “Sendo assim, podemos afirmar que a voz do interlocutor questionado (IQ) se apresenta semelhante com a voz do interlocutor padrão 1 (IP1 – Rafael Mateus Winques) e interlocutor padrão 2 (IP2 – Rafael Mateus Winques)”, finalizam.
Pedidos da defesa
De posse do resultado da perícia, Severo apresentou novos pedidos ao Poder Judiciário. Entre eles o de revogação da prisão preventiva de Alexandra, presa desde julho de 2020 e a realização de mais uma perícia, esta pelo Instituto Geral de Perícias (IGP) – o que fora negado pela juíza de Planalto, Marilene Parizotto Campagna no dia do júri. “Para que não se diga que é uma perícia particular, que vai ser favorável à defesa, estamos pedindo essa perícia do IGP, um órgão do Estado, isento. Para que não reste nenhuma dúvida”, diz o criminalista.
O criminalista explica ainda que se faz necessário a anulação do processo e a realização de uma nova investigação. “Está comprovado que alguma coisa errada aconteceu. A perícia é muito clara”, diz. “É um processo nulo. Não tem pé nem cabeça. A denúncia diz que ele morreu no dia 14, e no dia 15 ele está vido. Isso precisa ser investigado novamente. Esperamos que o Judiciário tenha bom senso. É um processo nulo”, conclui.
O caso
Rafael Mateus Winques foi morto em 2020. O caso rapidamente tomou os noticiários nacionais, quando o corpo do menino foi encontrado dentro de uma caixa de papelão no terreno da casa vizinha à sua e a mãe dele, Alexandra, foi acusada pelo crime. Ela responde por homicídio qualificado (motivo torpe, motivo fútil, recurso que dificultou a defesa da vítima), ocultação de cadáver, fraude processual e falsidade ideológica. De acordo com o Ministério Público, ela estrangulou o filho, após drogá-lo com medicamentos para dormir. O motivo seria o incomodo com as negativas do menino de acatar suas ordens.
À época, Alexandra chegou a confessar o crime, mas voltou atrás. A tese da defesa é a negativa de autoria, apontando que o crime fora cometido pelo pai da criança e que Rodrigo, a partir daí teria passado a ameaçar o filho mais velho de Alexandra, caso ela contasse algo a alguém.