Mais que mostrar a beleza da mulher trans, a técnica em enfermagem de São Leopoldo Luanna Isabelly, 28 anos, quer lutar para que todas elas tenham acesso à educação e qualificação profissional.
E é por meio de concursos de miss que ela está conseguindo dar visibilidade e eco a este projeto. Eleita Miss Trans São Leopoldo e Miss Trans Rio Grande do Sul neste ano, ela agora se prepara para representar o Estado no maior concurso de beleza trans do país: o Miss Brasil, que acontece de 3 a 5 de dezembro, em São Paulo.
“Nunca sonhei em ser miss, mas sempre quis poder fazer algo pelas mulheres trans da minha cidade, do meu estado, e quem sabe até do meu País. E os concursos de beleza, no meu ponto de vista, vêm cada vez mais associados a uma beleza com propósito.
Já foi aquele tempo em que a miss só tinha que ser bonita. Hoje ela tem que ser completa. Além da beleza física, ela tem que estar envolvida em projetos e ações sociais para a sua classe, para todas as minorias”, diz.
E este projeto, Luanna já tem bem definido e o leva a todos os concursos que participa.
“A pauta que eu sempre coloco nos meus concursos é que as mulheres trans devem ser inseridas na sociedade através da educação. Acredito que incentivar as mulheres trans do nosso País a concluírem o ensino médio, a terem uma formação técnica e profissional abre janelas e portas para que elas não sejam julgadas pelas suas condições de vida, e sim pelo exercício de suas funções.
Não se trata de uma escolha ser mulher trans, é uma condição de vida, de gênero. E quando se tem uma formação, quando conseguimos concluir os nossos estudos, conseguimos nos infiltrar em meio à sociedade sem sermos apontadas e sem sermos vistas como um objeto sexual.
Conseguimos afastar nossa imagem disso para poder exercer nossas funções sem sermos julgadas por sermos mulher trans”, afirma.
Para ela, oportunizar às mulheres trans a possibilidade de qualificação e de inserção no mercado de trabalho é uma das formas de diminuir o preconceito sofrido diariamente por muitas delas. “A única forma de nos inserirmos na sociedade, é através da educação, do estudo.
De a mulher trans ocupar os espaços das profissões, estar nas universidades, no colégios para que ela não precise estar vulnerável à prostituição e ser associada à sexualidade.
Quanto mais mulheres trans inseridas nas escolas, nas formações técnicas e ocupando seus ofícios no mercado de trabalho formal, esse preconceito cada vez diminui”, avalia.
Transição e apoio da família
Luanna começou a transição aos 14 anos. Ela conta que o apoio da família, especialmente das irmãs, dispensado desde o início, fez toda a diferença.
“O apoio dos meus pais veio através da condição de que eu continuasse meus estudos, e de que eu tivesse uma formação para poder viver a minha vida e ter uma formação profissional para poder manter minha vida sem estar vulnerável às ruas”, diz.
“O conselho que dou para estas meninas que estão começando a transição, é que elas acreditem em si mesmas e por mais difícil que seja frequentar o colégio e receber aquele preconceito que, infelizmente, a gente recebe, que elas acreditem em si, que vão em frente.
Que estudem muito o que está acontecendo no nosso meio, as políticas públicas que são desenvolvidas, que elas saibam eleger seus representantes e que estes representantes realmente lutem pela nossa causa, por todo o público LGBTQIA+”, diz.
Preparação além da beleza
Além dos cuidados com a beleza, Luanna garante que a preparação de uma miss requer muito estudo e dedicação. “No concurso como o de Miss Brasil, são avaliadas a beleza plástica das candidatas em desfile de traje de banho, gala, social.
Além disso, é feita avaliação da oratória, comunicação e o que a candidata traz de inovação para o concurso , quais os projetos e o principal objetivo dela”, explica.
“As minhas preparações começam sempre estudando, me atualizando no que está acontecendo no nosso estado e no nosso país.
Procuro estar sempre atualizada das políticas públicas e dos fatos relacionados ao público LGBTQIA+ e também às mulheres trans. Preparo muito minha oratória, e procuro manter os cuidados com minha estética e físico”, entrega.
Militância
Moradora do centro, Luanna diz ser motivo de satisfação representar São Leopoldo nos eventos que participa. Para a viagem a São Paulo, ela conta com o apoio da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e do Gabinete do Prefeito.
“São Leopoldo tem militância, é uma cidade participativa e que inclui. A cada evento que participo dentro das nossas cidades é com a maior honra que levo São Leopoldo, município de onde fui eleita, onde cresci e vivi.
É uma satisfação imensa representar essa cidade no Estado, e agora, mais ainda, de poder estar levando ao concurso nacional”, finaliza.
Fonte Jornal NH