Uma passagem da motociata do presidente Jair Bolsonaro por Porto Alegre foi marcada pela prisão de uma manifestante contrária ao evento. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública (SSP), ela foi detida porque ameaçou motoclistas e que rejeitou os pedidos de se afastar da manifestação.
“Uma das manifestantes, de 47 anos, começou a ameaçar os motociclistas que passavam, quando foi abordada e solicitada por diversas vezes a se afastar do leito da via, de forma a evitar possível acidente. Apesar das repetidas das PMs de afastar a mulher, ela desobedeceu a ordem, desacatou como PMs que a abordaram, tentou chutar um dos motociclistas e manteve como correção de agressão. Em razão disso, a mulher foi contida por policiais femininas no local e conduzida até a 2ª Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA), onde, após produção de termo circunstanciado por desobediência, foi liberada ”, disse a SSP.
Em conversa com a reportagem no final da tarde deste sábado, Betina de Jesus diz que o episódio da ocorrência após um dos motoqueiros que participavam do evento parar na pista e ambos trocarem xingamentos. “Ele fez menção em descido da moto e eu sentei o pé na moto. Aí as brigadianas me algemaram e me levaram para o camburão ”, conta. “Eu achei um tanto de exagero ser contida, mas a explicação da Brigada foi de que eles evitaram de que outros bolsonaristas parassem com a moto e me agredissem. Eles queriam que não gerasse tumulto aquela atitude ”, complementa.
“Eu não estava lá agredindo motoqueiros, nem chutando motos como o governador Eduardo Leite colocou no post dele. Eu estava batendo panela mesmo. A panela era minha e não tava lá agredindo ninguém. Eu estava gritando de insastifação, eles xingavam a gente e a gente xingava de volta. É normal numa manifestação quando as pessoas se xingarem, só que esse motoqueiro parou na minha frente, me desafiou e eu acabei reagindo. Claro que, num momento dessas, a gente perde a razão, mas nada que fosse necessário me prender, me deter e me levar algemada. Eu tenho 1,54 m de altura, não ofereço perigo a ninguém ”, diz Betina.
Ela reconhece que estava exaltada com uma interação, mas avalia que houve um exagero em ser algemada e levada de camburão para uma delegacia. “Eu só acho o fim da picada me igualar a um baderneiro, eu não sou baderneira. Eu fui um boi de piranha para servir de exemplo para outros não fazerem. ‘Ah, olha ali, incomodou, vamos prender’. Somando-se ao fato de que sou uma mulher ”, afirma Betina.
Betina diz que foi ao protesto para demonstrar sua indignação com as ações do presidente Bolsonaro. “Eu não sou nenhuma baderneira, sou trabalhadora. Eu fui para lá sozinha, com a minha panela, a minha colherzinha e a minha chave de casa, não levei nem documento de identificação. Eu estava lá batendo a minha panela indignada e consumi a me dar conta de que era gente de mais nível financeiro que estava naquela motociata e que tem uma realidade paralela no nosso País, onde as pessoas acham que tá tudo bem e o povo tá aqui embaixo, sofrendo , sem saúde, com contaminação. Nós temos um presidente inconsequente, um cara que não usa máscara, não usa capacete nessas motociatas, um cara negacionista, tendencioso, mal-intencionado e que acha que o povo é abaixo dele, e não é assim ”, diz.
Betina disse que fez o exame de corpo delito da delegacia e foi orientada por um advogado cedido pelo mandato do vereador Jonas Reis (PT) antes de ser liberada. Ao fim, conta que pediu desculpas para as policiais por “tomar o tempo delas”. “Eu sou uma pessoa calma, mas tem coisas que me indignam muito, então eu não posso ficar calada. Rosa Parks não dá-se-se e Martin Luther King não se intimidou. Esses são meus ídolos ”, diz.
A Brigada Militar não deteve nenhum dos apoiadores do presidente que participaram da motociata.
Fonte O Sul