Três dos principais líderes do crime organizado em Porto Alegre negaram participação nas disputas pelo controle da venda de drogas na zona Norte. As negativas ocorrem após um conflito deflagrado no dia 21 de setembro, quando o líder de uma facção atuante no bairro Mário Quintana anunciou que passaria a integrar um grupo rival, conforme a Brigada Militar.
Ainda segundo a corporação, o traficante do bairro Mário Quintana teria fundado a própria quadrilha – um bando que se propõe a unir a ‘nova geração’ do tráfico – com o intuito de se unir com criminosos da Vila Cruzeiro, na zona Sul, e da Vila Jardim, zona Norte, para fazer frente aos antigos aliados. A união dos traficantes teria o proposito de expandir o alcance de uma facção emergente, que se define como uma ‘família’ da região Sul, capitaneada pelo grupo da Vila Jardim.
Uma mensagem atribuída aos faccionados, divulgada através das redes sociais, sugere um convite para que traficantes rivais abandonem divergências e passem a integrar uma mesma quadrilha. “O muro está baixo. Quem quiser fechar [se unir], pula [para o nosso lado] enquanto tem tempo. Estamos abraçando os amigos e botando uma pedra em várias ‘fitas’. Vem que vai ser tudo no respeito, humildade e disciplina”, diz a postagem.
Apurado que um trio de detentos da Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc) foi interrogado sobre o suposto envolvimento em disputas na zona Norte. Apontados pela BM como articuladores do conflito, os três negaram participação.
Um dos interrogados foi Jackson Peixoto Rodrigues, apontado como líder da facção criada na Vila Jardim. Conhecido como ‘Nego Jackson’, o traficante foi capturado em 2017, em Pedro Juan Caballero, no Paraguai. Investigado por envolvimento em ao menos 24 homicídios, ele chegou a ser transferido para a Penitenciária Federal de Porto Velho, em Rondônia, mas retornou para o Rio Grande do Sul em 2020.
Foto: Polícia do Paraguai
Leonardo Ramos de Souza, tido como suposto braço direito de Nego Jackson, também passou por interrogatório. O criminoso, vulgo ‘Peixe’, também chegou a ser transferido para Porto Velho, em 2017. Uma investigação da Polícia Federal concluiu que, mesmo em outro estado, o preso continuava comandando a venda de drogas no Rio Grande do Sul. As ordens eram transmitidas em dias de visitação na penitenciária federal, quando o traficante se encontrava com a companheira, Graciele Ribeiro do Carmo.
Foto: Divulgação
O terceiro preso interrogado foi André Vilmar de Souza, o Nego André, apontado como líder de uma organização criminosa com origem na Vila 27, na Vila Cruzeiro do Sul. A apuração das forças de Segurança aponta que o traficante, que tem condenações por homicídios, roubos e receptação, não teria concordado em se unir com os outros em uma mesma facção.
Foto: Divulgação
Conforme o relatório, apesar de terem negado envolvimento em conflitos no bairro Mário Quintana, os interrogados teriam reconhecido que as tensões na zona Norte são fomentadas por Maicon Donizete Pires dos Santos, o ‘Red’. Eles também teriam atestado que o criminoso integrava uma facção com berço no bairro Bom Jesus, na zona Leste, atuando como ‘gerente’.
Quando ainda integrava a antiga facção, Red era subordinado a José Dalvani Nunes Rodrigues, o ‘Minhoca’, que desde 2017 cumpre pena na Penitenciária Federal de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. No entanto, investigações revelaram que a ausência do líder fez com que Red expandisse sua influência na zona Norte, a ponto de sair do grupo e formar uma nova quadrilha. Desde então, ele teria se aproximado de traficantes das vilas Jardim e Cruzeiro, além de grupos do Loteamento Timbauva, para fazer frente ao poder bélico dos ex-aliados.
Maicon Donizete Pires dos Santos, o Red Foto: Divulgação
Segundo o comandante do 20º BPM, tenente-coronel Rafael Tiaraju de Oliveira, foram efetuadas, em dez dias, a prisão de 75 criminosos e a apreensão de 62 armas, na zona Norte. O coronel relata que militares do Comando de Policiamento da Capital (CPC) e do Comando de Polícia de Choque (CPChq), somados aos policiais civis, foram peça chave para frear o conflito. “Se não fosse essa ação forte, certamente teríamos contado com muitos homicídios na área”, afirmou.
Fonte Correio do Povo