Mais de 2 mil pessoas de cerca de 25 movimentos sociais participaram do 28º Grito dos Excluídos e Excluídas, em Porto Alegre, na manhã desta quarta-feira. O ato pacífico percorreu a pé algumas das principais ruas dos bairros São José e Partenon, a partir da Igreja São José do Murialdo, passando pela avenida Bento Gonçalves, e encerrando na praça Francisco Alves, onde houve a concentração dos manifestantes e distribuição de marmitas produzidas por cozinhas comunitárias e pacotes de arroz orgânico aos participantes.
A EPTC auxiliou no controle do trânsito e a Brigada Militar (BM) observou a manifestação. Neste ano, o lema do Grito foi “Brasil, 200 anos de (In)dependência. Para quem?”. Segundo a organização, é uma maneira de denunciar as desigualdades da população. Houve batucada, cartazes e gritos de protesto durante a caminhada, especialmente contra a fome, o desemprego, desmatamento, violência contra a população negra e os povos indígenas. “O Grito dos Excluídos nasceu desta necessidade de que a gente mostre para a sociedade aquilo que muitas vezes ela não vê”, afirma a membro da Cáritas Brasileira e da coordenação do Grito, Roseli Dias.
De acordo com Roseli, a retomada do evento após o fim da fase aguda da pandemia foi outro aspecto de destaque. As vítimas fatais da doença também foram relembradas pelos participantes. “Este protesto é pela vida, em primeiro lugar. Queremos um dia ocupar as ruas para gritar de felicidade. Mas enquanto houver estas realidades todas de violência, precisamos gritar para alertar a sociedade”, comenta Márcia Falcão, também coordenadora do ato, porém representando o Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional do Rio Grande do Sul (Consea-RS).
Antes do ato, integrantes das comunidades indígenas Fág Nhin e Oré Kupri, do bairro Lomba do Pinheiro, fizeram uma apresentação, bastante aplaudida pelos presentes. Já depois da caminhada, filas se formaram para receber os alimentos. Além das faixas e camisetas de movimentos sociais, algumas pessoas também distribuíam panfletos aos moradores nas ruas e casas. A assistente social Raquel Jacques da Rosa, moradora do Cristo Redentor, carregava um exemplar da Constituição Federal em uma mão e um quilo de feijão na outra, simbolizando a fome.
Emocionada, ela exibia o livro que diz possuir desde 1995, desgastado e com diversas anotações à mão, e que o estudou inteiro desde então. Raquel ainda comentou que realiza um trabalho social na Vila Jardim, área carente da Capital. “É uma obra muito especial. Vale a pena estudar. Carrego ele há bastante tempo, e me motivei a estudar os artigos. Tenho muito apego por ele”, afirmou, acrescentando que chegou a trabalhar anteriormente no Hospital Conceição, e que, por isso, conheceu “muitas pessoas que sofreram muito durante a pandemia”.
Fonte Correio do Povo