A Martina Soares recebeu uma ligação de um homem dizendo ser “agente de negócios do SBT.” Ele questionou a dona de casa de 56 anos a respeito das “Tele Senas” que ela tinha em casa. Há anos comprando os títulos de capitalização, ela disse que, de saída, não achou nada estranha a chamada. Isso até o sujeito do outro lado da linha pedir o endereço e informar que estaria passando em poucos minutos na casa dela para recolher os “talões.” “O tal Carlos disse que passaria aqui em casa em meia hora para buscar os talões”, conta. “Achei tudo muito estranho, afinal não é assim que funciona com a Tele Sena”, continua. “Então passei o telefone para o meu neto. O tal Carlos desligou na hora.” Fez mais que certo a dona Martina, tendo em vista que o “tal Carlos” queria aplicar um golpe, sem dúvida alguma, na visão da Polícia Civil.
É que cresceu muito o estelionato em meio a pandemia na avaliação do diretor da 2ª Delegacia de Polícia Regional Metropolitana [DPRM]. “Explodiu”, aponta o delegado Mario Souza. “Seja por telefonemas, aplicativos de celular ou por e-mail, cresceram demais os golpes”, afirma. São centenas de ocorrências por mês, o que deixa uma média de quatro pessoas enganadas por dia em Canoas. A tentativa de golpe sofrida pela dona Martina nem foi tão articulada, conforme o delegado. É que há outras muito mais elaboradas. “Os caras se passam por figuras conhecidas ou agentes de órgãos públicos. Tudo para tirar dinheiro da vítima. E isso em um momento que já é bastante difícil para a maioria das pessoas.”
De acordo com o delegado, é tempo também para mais que tomar cuidado com qualquer transação em dinheiro. “A pessoa tem que pensar muito bem antes de passar no banco e tirar dinheiro para fechar um negócio com alguém que não conhece”, frisa. “Antigamente isso era bastante comum, só que agora se tornou mais perigoso que nunca.” A orientação é que, ao ser acionado por uma figura suspeita, seja por ligação, e-mail ou uma simples mensagem de WhatsApp, que a Polícia Civil seja avisada o mais depressa. “Todo cuidado, é pouco. Os estelionatários se valem da ingenuidade das vítimas, o que é também um problema para nós”, diz. “Além das ocorrências de crimes que temos, acreditamos que muitos sequer fazem o registro devido ao constrangimento ao se sentirem enganados.”
Foram quase mil crimes só ano passado
Responsável por coordenar o trabalho feito pelas delegacias de Canoas e região, o delegado Mario Souza alertou, no final do ano passado, sobre o crescente número de golpes envolvendo compra e venda de automóveis em Canoas. Na época, a cidade somou 238 crimes em apenas dois meses, algo absurdo segundo ele. Felizmente, houve uma queda de 30% neste tipo de crime desde o ano passado. “Continua acontecendo, mas não com a velocidade que vinham sendo registradas as ocorrências dese o fim de ano”, esclarece. “Só que o alerta segue valendo”, adverte. “Não dá para o cara entregar o carro sem antes ter recebido o dinheiro. Ao mesmo tempo, não dá para pagar pelo veículo sem já tê-lo em mãos. Antigamente, um aperto de mão bastava; hoje não.” Para se ter uma ideia, Canoas registrava uma média de 600 ocorrências de estelionato anualmente, de acordo com dados da Secretaria Estadual de Segurança Pública. Isso tudo mudou no ano passado, quando foram quase mil ocorrências registradas pela Polícia Civil. A situação piorou muito nos últimos seis meses. Foram 720 ocorrências registradas somente nos últimos seis meses.
Não era golpe na conta de luz
A Rio Grande Energia informou sobre as “fake news” divulgadas pelas redes sociais apontando um grupo que estaria fraudando as “contas de luz.” Na verdade, o aviso de corte impresso nas faturas tratava-se de uma estratégia da concessionária para alertar os consumidores sobre o final do prazo, determinado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), para que não fosse interrompida a energia por falta de pagamento. “A empresa esclareceu tudo”, explicou o delegado Marcio Zachello, que apurou 14 denúncias.
Ajude a polícia e denuncie
A Polícia Civil alerta que o crime de estelionato, que corresponde a obter vantagem ilícita, induzindo alguém ao erro, mediante artifício fraudulento é crime previsto no Art. 171 do Código Penal Brasileiro, com pena prevista de dois a cinco anos de prisão. Conhece algum estelionatário? Então denuncie! A Polícia Civil recebe denúncias anônimas através do número (51)3425-9056. Quem preferir pode encaminhar uma mensagem por WhatsApp por (51)95459-0259 ou através do site www.pc.rs.gov.br.
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