No último dia deste mês de abril, véspera do Dia Internacional do/a Trabalhador/a, 300 trabalhadores de Nova Prata, na Serra Gaúcha, não terão o que festejar. Todos serão demitidos. Olhando-se para os números do desemprego no país parece pouco, mas se a perda ocorre em uma pequena cidade, é um choque e tanto. Vai acontecer porque a principal empregadora do município, a Yoki, fechará definitivamente suas portas.
A decisão não passou por qualquer discussão com os empregados, os sindicatos ou a prefeitura. Foi tomada milhares de quilômetros distante do Brasil, em Minneapolis, cidade sede da multinacional General Mills, que controla o grupo Yoki desde 2012, e chegou a Nova Prata como fato consumado.
“Da noite pro dia você tem 300 desempregados. São 300 famílias. Traz um baque social e a cidade toda sente muito porque vem a questão econômica”, resume José Modelski, diretor da Confederação Brasileira Democrática dos Trabalhadores na Indústria da Alimentação (Contac-CUT). “A Yoki tem um faturamento que representa 10% da arrecadação municipal”, acentua o sindicalista.
“É um impacto local e regional”
Anderson Bolzan, secretário de Finanças e Desenvolvimento Econômico de Nova Prata, tem uma cifra mais precisa: “Em 2019, representou 14,84% do valor adicionado. Não é possível precisar o retorno em números absolutos. Mas é algo aproximado a R$ 2 milhões/ano para o município”, informa.
O diretor da Contac-CUT adverte que as consequências vão além da cidade. “É um impacto importante em nível local e regional, com reflexos na cadeia produtiva, englobando fornecedores, prestadores de serviço e pequenos agricultores”, diz.
Uma decisão irreversível
Modelski conta que, na hora do anúncio, a Yoki não apresentou argumentos relacionados à Nova Prata ou aos trabalhadores. Apenas informou que o assunto estava resolvido e não havia possibilidade de alterar a ordem vinda da sede norte-americana, tomada há mais tempo e não executada apenas devido à pandemia. “A decisão já havia sido tomada pelos acionistas nos Estados Unidos. Apesar de argumentarmos e tentarmos reverter, não houve a possibilidade”, lamenta Bolzan.
Para se instalar em Nova Prata, além de vantagens fiscais, a Yoki recebeu dois terrenos doados pelo município. Um deles com 70 mil metros quadrados e outro com 44 mil. As despesas de escrituração e registro de imóveis correram por conta do erário público. “A empresa está colocando à venda suas instalações, mas a expectativa que a gente tem é que dificilmente outra indústria irá se instalar no local gerando um número de empregos comparável a Yoki”, considera Modelski.
Transferência para Minas Gerais
Em Nova Prata, a produção é de pipocas e será deslocada para a unidade de Pouso Alegre, em Minas Gerais. A transferência foi decidida como fator de “redução de custos e adequação da logística”. Seria, diz Modelski, para continuar a produção “em unidade mais moderna, utilizando menos mão de obra e com o fornecimento de matéria-prima já planejado pela empresa”.
A General Mills chegou ao Brasil em 1997 vendendo o sorvete Häagen-Dazs. Expandiu-se para a produção de pipocas, temperos, caldos em pó, sucos, chás, refrigerantes e laticínios. Em 2012, comprou o grupo Yoki Alimentos, tornando-se dona das marcas Yoki, Mais Vita e Kitano. Quatro anos depois, adquiriu a empresa e a marca Carolina para produzir iogurte, leite fermentado e bebidas lácteas.
Chama a atenção que a indústria da alimentação, ao contrário de outros ramos da economia, não registrou perdas consideráveis durante a pandemia. “Os frigoríficos continuam empregando e alguns trabalhadores da Yoki serão contratados pelo setor”, exemplifica o diretor da Contac-CUT. No Brasil, o setor de alimentação emprega cinco milhões de trabalhadores dos quais 500 mil no Rio Grande do Sul.
Fonte Ayrton Centeno | Brasil de Fato