Entenda a guerra do tráfico que resultou em 75 prisões em dez dias na zona Norte de Porto Alegre

Entenda a guerra do tráfico que resultou em 75 prisões em dez dias na zona Norte de Porto Alegre

As Forças de Segurança estão em alerta com a escalada do conflito entre facções no bairro Mário Quintana, na zona Norte de Porto Alegre. Segundo a Polícia Civil, as disputas tem sido fomentadas pelo líder de uma facção que, no dia 21 de setembro, anunciou que passaria a integrar um grupo rival.

Conforme o delegado Mario Souza, diretor do Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (Dhpp), o desajuste entre integrantes do crime organizado é a razão pela qual a zona Norte é a região que mais concentra delitos contra a vida na Capital. “A zona Norte é a região que mais concentra homicídios em Porto Alegre, desde o início do ano. É importante destacar que aproximadamente 80% dessas mortes ocorreram dentro do contexto do crime organizado. De cada dez mortes, oito são de criminosos”, afirmou.

Souza estima que cerca de quatro a seis mortes já ocorreram devido ao conflito. O delegado, entretanto, destaca que ações integradas evitaram um maior número de mortes. “A situação é sensível, mas as ações com Brigada Militar e Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) bloquearam as mortes. Vamos identificar todos os envolvidos e responsabilizá-los. A cada morte que houver na Capital, vai haver uma reação. Por isso a redução de homicídios em Porto Alegre continua tão forte”, enfatizou o delegado.

Segundo o comandante do 20º BPM, tenente-coronel Rafael Tiaraju de Oliveira, operações na zona Norte resultaram, nos últimos dez dias, na prisão de 75 criminosos e na apreensão de 62 armas. O coronel relata que militares do Comando de Policiamento da Capital (CPC) e do Comando de Polícia de Choque (CPChq) foram peça chave para frear o conflito. “Se não fosse a ação forte da Brigada Militar, certamente teríamos contado com muitos homicídios na área”, afirmou.

Ainda de acordo com Tiaraju, a efetividade das ações deve-se também à integração dos soldados com os policiais civis. “Ressalto a importância do trabalho em conjunto. Estamos com uma integração muito forte com o Departamento de Homicídios, nossa inteligência trabalha junto com a da Polícia Civil. Isso permitiu que déssemos uma resposta rápida”, declarou o coronel.

A Operação Saturação de Área exemplifica as ações conjuntas. No dia 22 de setembro, a ofensiva capturou 28 traficantes e apreendeu 25 armas, incluindo fuzis e submetralhadoras, nos bairros Mário Quintana e Costa e Silva. A Secretaria da Segurança Pública (SSP) do Rio Grande do Sul estima que a medida gerou mais de R$ 500 mil de prejuízo para as facções.

Já no dia 26 de setembro, uma troca de tiros durante a operação resultou na morte de cinco criminosos e na prisão de um, que tinha antecedentes por homicídios. Na ocasião, integrantes de uma facção da Vila Cruzeiro, na zona Sul, foram interceptados por policiais militares quando preparavam um ataque ao grupo da zona Norte.

Com os traficantes, que foram localizados enquanto se reuniam em um imóvel, foram apreendidos um fuzil calibre 5.56, uma espingarda calibre 12, cinco pistolas calibre 9 milímetros, 111 munições de calibre 5.56, 134 munições de calibre 9 milímetros, 15 munições calibre 12, 04 carregadores de pistola, sendo um deles com capacidade estendida, um carregador de fuzil tipo caracol, uma câmera de vigilância e 332 pedras de crack. Nenhum soldado ficou ferido durante a ação.

Quem é o pivô do confronto

Foi apurado que o pivô dos conflitos no bairro Mário Quintana seria Maicon Donizete Pires dos Santos. Conhecido como ‘Red’, o criminoso integrava uma facção com berço no bairro Bom Jesus, na zona Leste, mas que também tem atuação na zona Norte.

Antes de abandonar o antigo grupo, Red atuava como gerente do narcotráfico. Nesse período, ele ainda era subordinado a José Dalvani Nunes Rodrigues, o ‘Minhoca’, preso em 2016 em Ciudad del Este, no Paraguai. Condenado a mais de 25 anos de reclusão, Minhoca foi transferido para a Penitenciária Federal de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, em 2017.

   

  Maicon Donizete Pires dos Santos Foto: Divulgação

As investigações revelaram que a ausência do líder fez com que Red expandisse sua influência na zona Norte, a ponto de sair do grupo e formar uma nova quadrilha. Desde então, ele teria se aliado a traficantes das vilas Jardim e Cruzeiro, além de grupos do Loteamento Timbauva, para fazer frente ao poder bélico do antiga facção.

Fonte Correio do Povo

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