O Semapi-RS, sindicato que representa os trabalhadores de fundações ligadas ao governo estadual, alertou, no último sábado (8), que o número de casos confirmados do novo coronavírus está disparando entre funcionários da Fundação de Proteção Especial (FPE) e da Fundação de Atendimento Socioeducativo (Fase) do Rio Grande do Sul nos últimos dias.
Desde o início da pandemia do novo coronavírus em Porto Alegre, 18 servidores da FPE já testaram positivo para a covid-19, sendo que sete deles estão afastados no momento por ainda estarem com a doença. Desde abril, quando ocorreu o primeiro caso confirmado de um servidor da Fase contaminado com o novo coronavírus, outros 75 trabalhadores da instituição, na Capital e no interior do Estado, testaram positivo para a covid-19. Ainda, além dos trabalhadores, 40 jovens que cumprem medida socioeducativa nas unidades da Fase também foram diagnosticados com a doença.
Conforme informado pela Fase ao Sul21, “os adolescentes e servidores, na grande maioria, permanecem assintomáticos” e, segundo a FPE, a quantidade de casos confirmados entre trabalhadores da instituição significa um baixo índice de 1,37, “levando em conta uma quantidade de 510 trabalhadores que atualmente estão na ativa”. “Todos os trabalhadores sintomáticos são afastados no momento em que referem os sintomas ou em que é detectado pela chefia imediata”, afirma a instituição.
O Sempai, no entanto, diz que problemas estruturais nas instituições estariam colaborando para a disseminação do vírus e para o consequente aumento de casos confirmados. Segundo o sindicato, esses problemas dizem respeito à falta de pessoal e a ambientes insalubres, como “a falta de higienização constante e pouca ventilação nos locais de trabalho, Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) inadequados – máscaras artesanais, sem uma análise de risco em que seria possível saber qual o equipamento apropriado para cada ambiente -, e falta de capacitação para o uso correto dos mesmos”.
“Além disso, não são em todas as unidades que os servidores têm a temperatura aferida quando chegam para trabalhar, os testes são realizados apenas onde há surto do novo coronavírus e poucos locais possuem tapete higiênico na entrada”, de acordo com o Semapi.
O sindicato também cobra que todos servidores e adolescentes abrigados sejam testados, mesmo aqueles assintomáticos, e lembra que em maio, após o agente socioeducativo João Batista Ramos de Freitas, que trabalhava na Fase, falecer por complicações provocadas pela covid-19, o Executivo se comprometeu com os testes, mas apenas em servidores sintomáticos. “Não é suficiente”, pontua o Semapi.
Em resposta a um pedido de posicionamento feito pela reportagem do Sul21, a Diretoria Administrativa da FPE disse desconhecer haver qualquer ambiente de trabalho em condições insalubres entre as dependências da instituição ou nos Abrigos Residenciais. Também em resposta ao Sul21, a Assessoria de Comunicação da Fase afirmou que, no momento, 351 servidores encontram-se afastados por pertencerem ao grupo de risco, ocasionando a diminuição da força de trabalho, e que os EPI’s estão sendo “distribuídos de forma sistemática a atender a demanda das unidades”.
Já quanto à testagem de apenas pessoas sintomáticas, a Fase respondeu que “observa rigorosamente os fluxos determinados pela Vigilância Sanitária das Secretarias Municipal e Estadual de Saúde e os protocolos por estes órgãos determinados dizem que devem ser testados os servidores sintomáticos e os que tiveram contato com servidores positivados”. Porém, a instituição também afirma que, mesmo assim, há alguma semanas testou pelo método RT-PCR todos os servidores da Comunidade Socioeducativa (CSE), sintomáticos ou não.
A FPE afirmou que está seguindo a orientação da Secretaria do Estado e da equipe da Vigilância Epidemiológica em Saúde de Porto Alegre. “O RT-PCR permanece sendo o teste de escolha para pacientes sintomáticos na fase aguda. A Fundação de Proteção segue as recomendações da equipe apropriada desta informação para evitar e controlar o surto de coronavírus nos espaços de acolhimento”, diz em nota. A instituição ainda ressalta que “é de conhecimento público a escassez dos testes, de modo que autorização para realização dos testes segue os critérios técnico da Secretaria Municipal de Saúde” e que afirma que “uma testagem em massa, fora do tempo oportuno, não daria maior segurança no avanço do contágio da doença”.
Medidas protetivas
Ainda, ambas instituições afirmaram estarem adotando medidas protetivas e protocolos de saúde a fim de evitar o avanço do vírus entre os servidores e abrigados. A FPE informou estar realizando ações como, por exemplo, afastamento de servidores que pertencem ao grupo de risco, diminuição da circulação de trabalhadores nos espaços de acolhimento, a proibição da entrada de pessoas estranhas aos abrigos; o fornecimento de EPI’s, como máscara cirúrgica, máscara de tecido, óculos de proteção, luvas, entre outros, o fornecimento de produtos de segurança, como álcool em gel e líquido, sabão líquido, termômetros digitais infravermelhos para monitoramento da temperatura corporal dos trabalhadores e residentes dos abrigos, e a desinfecção dos Abrigos Residenciais.
Dentre as medidas adotadas pela Fase e protocoladas nas resoluções n. 007 e 008/2020 estão, por exemplo, a instituição do Comitê de Monitoramento em Saúde e Grupos de Monitoramento em todos os Centros de Atendimento/CASEs do Estado do Rio Grande do Sul, a suspensão com autorização judicial da visitação por parte de familiares, a produção de rotinas de higienização pessoal, de espaços físicos e objetos, nos moldes das determinações da Organização Mundial de Saúde, Ministério da Saúde e cooperação técnica com a vigilância de saúde municipal das Secretarias Estadual e Municipal de Saúde; o fornecimento de equipamentos de proteção individual e proteção respiratória em número suficiente para o atendimento seguro e a realização de trabalho de conscientização para uso adequado.
Fonte Sul21