O astro da Broadway Nick Cordero, de 41 anos, morreu no domingo (5) após uma batalha de três meses contra a covid-19.
A doença evoluiu para complicações graves. Além de ter a perna amputada, ele chegou a necessitar de transplante duplo de pulmões, segundo havia divulgado sua esposa esposa, Amanda Kloots, em entrevista à emissora americana CBS.
De acordo com ela, em um primeiro momento, Cordero, 41, foi diagnosticado apenas com pneumonia. No entanto, seu quadro só piorava, então ele resolveu procurar outra opinião médica e foi internado em março, após ter a confirmação de que estava com covid-19.
O ator acordou do coma induzido e teve o resultado do teste negativo para o novo coronavírus, mas apresentava sequelas graves e já havia amputado uma perna por causa da doença.
A covid-19 também havia enfraquecido muito a musculatura do ator. Ele não conseguia se mover ou falar. De acordo com publicações de familiares, Cordero não tinha problemas médicos anteriores.
Entenda o caso
A covid-19 é uma doença sistêmica, mas os pulmões são seu principal alvo. O pneumologista José Rodrigues Pereira, da BP- A Beneficência Portuguesa de São Paulo, ressalta que ela pode se manifestar de maneira leve, moderada e grave.
“Os pacientes com comprometimento pulmonar já têm, na melhor das hipóteses, um quadro moderado”, pondera. “Quanto maior a gravidade, maior a chance de ter danos pulmonares”, completa.
O especialista afirma que pacientes em estado grave por causa da covid-19 estão sujeitos a uma série de fatores que podem causar sequelas nos pulmões. Um deles é o processo inflamatório causado pela reação exacerbada do sistema imunológico à ação do novo coronavírus.
“Na primeira semana, é possível reverter esse processo. Depois disso, ele pode causar alterações fibróticas e síndrome da angústia respiratória aguda (SARA), que gera acúmulo de fluídos nos sacos de ar dos pulmões e impedem a entrada de oxigênio “, destaca.
Outra situação que pode gerar danos irreversíveis nos pulmões, segundo o médico, é a necessidade de ventilação mecânica. “O Nick teve a ventilação e a inflamação”, observa. “É muito comum que pacientes intubados e com ventilação mecânica tenham coinfecção bacteriana e viral”, acrescenta.
Necessidade de transplante
De acordo com Pereira, se existia a necessidade de transplante é porque houve “uma destruição pulmonar” e, com isso, a membrana que faz a troca de gás carbônico por oxigênio realiza esse processo “de forma muito dificultosa”, algo que pode ser permanente.
Existem dois aspectos analisados para decidir sobre a necessidade de transplante: se a pessoa tem comorbidades e qual seria a expectativa de vida dela caso não estivesse na condição de saúde em que se encontra.
“Nick era um paciente jovem, acredito que não tinha outras doenças, então teria uma alta expectativa de vida. Ele teve uma doença aguda que, provavelmente, causou um dano irreversível”, descreve Pereira, ao explicar por que o ator se enquadrava nos quesitos exigidos para o transplante.
No entanto, o especialista pondera que é preciso esperar que o processo inflamatório gerado pela covid-19 esteja estabilizado para avaliar a dimensão das lesões e se elas realmente são irreparáveis.
“A estabilização pode ocorrer no intervalo de até 2 anos. O que a gente tem visto é que as sequelas persistem por meses”, detalha.
Outras doenças que podem causar sequelas irreparáveis a ponto de levar a um transplante de pulmões são a fibrose sística e a enfisema pulmonar, exemplifica o pneumologista.
Pereira destaca que dentre os orgãos sólidos, o pulmão é o mais difícil de ser transplantado – além dele, estão nessa categoria o coração, rim, pâncreas e fígado. Por isso, esse tipo de cirurgia é realizado em centros especializados. Em São Paulo, o maior deles é o Incor (nstituto do Coração do Hospital das Clínicas da USP), diz o especialista.
“Então, são selecionados pacientes específicos e a fila [de espera] é a mais rápida, não porque há muitos pulmões disponíveis, mas porque as pessoas vão morrendo”, explica.
Amputação da perna
Para explicar a amputação de uma das pernas do ator, Pereira lembra que a inflamação exagerada do sistema imunológico à covid-19 não fica restrita aos pulmões.
“A pessoa tem um risco maior de evoluir com quadros de tromboembolismo [formação de coágulos sanguíneos] venoso”, afirma.
“O nosso organismo é tipo um cabo de guerra. A gente tem substâncias que favorecem ou impedem a trombose, mas o processo inflamatório da covid-19 desequilibra esse cabo de guerra e aumenta a chance de coágulos”, descreve.
Ele acrescenta que pacientes em estado grave por causa da doença são tratados com medicamentos para aumentar a pressão sanguínea dentro dos vasos, a fim de manter estável a irrigação do organismo.
“Mas essas drogas podem levar a vasoconstrição. É como quando você quer regar plantas que estão mais longe no jardim e coloca o dedo na boca da mangueira para que a água alcance essa distância. Quanto menor a área, maior a pressão para chegar em regiões periféricas”, compara.
No entanto, de acordo com ele, a constrição vascular exacerbada pode causar o efeito inverso daquele esperado, ou seja, falta de irrigação e necrose, que é a morte do tecido daquela região.
Fadiga muscular
Pereira conta que a fadiga muscular, como a que afetou Cordero, tem sido frequente em pacientes com covid-19. “É a síndrome da fadiga crônica, que acontece mesmo em casos mais leves. Há uma fraqueza, perda de massa e força muscular”, descreve.
De acordo com ele, esse processo é mais intenso em quem tem quadros graves da doença. Aqueles que vão para a UTI (Unidade de Terapia Intensiva) podem sofrer com a “neuropatia do paciente crítico”.
“É um estado de imobilização associado a um processo que consome a energia de reserva do paciente. A medicação usada para mantê-lo vivo e a inatividade em que ele está acabam levando a esse tipo de neuropatia, que pode até gerar dificuldade para falar”, define.
Via Portal R7