Agressores gravam vídeo das ameaças e humilhações contra reciclador em Sapiranga, vejam as imagens

Agressores gravam vídeo das ameaças e humilhações contra reciclador em Sapiranga, vejam as imagens

O reciclador de 33 anos levou tapas, foi forçado a tirar a roupa sob ameaça de armas e teve que andar nu na beira da estrada escura. A degradante caminhada era iluminada pelos faróis do carro dos agressores, que seguiam o homem com gritos de intimidação enquanto ele tapava a frente do corpo para os veículos que transitavam no sentido contrário. Foram quase dez minutos de tortura física e psicológica na Rua Porto Palmeira, em Sapiranga. Mas a vítima, com medo, não foi à Polícia.

Os acusados são dois empresários, atiradores profissionais, já indiciados por formação de milícia, lesões corporais e tentativas de homicídio. Eles negam os crimes. Os nomes não são informados porque a nova denúncia ainda será investigada.

Seria mais um caso despercebido de violência miliciana se os supostos líderes não tivessem gravado e divulgado o vídeo entre amigos, em abril deste ano. Vazou. E a humilhação ganhou dimensão distorcida nas redes sociais. “Depois de toda vergonha que passei na rua, agora estou sendo visto como tarado. Sei que não sou exemplo pra ninguém, mas essa fama de depravado é muito ruim. Eu andei pelado para não levar tiro”, conta o reciclador, que pede para não ser identificado.

‘Justiceiros’

Usuário de droga desde os 18 anos, o homem tinha cortado cinco metros de fios de telefone com alicate. Queria vender para sustentar o vício. “Sério mesmo, foi a primeira vez que fiz isso.” Ele lembra que eram aproximadamente 21h30, mas não recorda o dia exato. Moradores da área flagraram o furto e, ao invés de chamar a Brigada Militar, telefonaram para os “justiceiros”.

“Os milicianos chegaram e fizeram eu devolver. Deixei tudo no chão, estava tudo certo. Eu queria ir pra casa. Daí me apontaram as pistolas e mandaram tirar a roupa. ‘Como assim, não posso andar pelado por aí’, falei pra eles. E me deram um ultimato: ‘ou tira, ou leva tiro’. Daí obedeci”, relata.

Perseguição na beira da estrada

O reciclador andou sozinho os primeiros metros. “Ainda achei um saco de ração vazio no chão e peguei para levar.” O vídeo, feito de dentro da caminhonete dos agressores, mostra quando ela se aproxima da vítima e começa a segui-la. Um deles grita: “tu vai continuar roubando?” O reciclador responde com um “não” e o homem segue ameaçando. “Larga esse saco. Se não vou descer.”

A vítima obedece e passa a ser xingada com palavrões impublicáveis em uma espécie de interrogatório. “Vai caminhando, vagabundo. Tu é surdo? Se eu descer, vai ser pior. Lixo de m…” O carro chega a ser jogado contra o reciclador, que desvia. “Corre. Vai roubar de novo? Fala mais alto que não tô ouvindo.” O veículo segue atrás, com breve silêncio, até novos gritos: “Tá devagar. Tô vendo que vou ter que descer do carro.” E a vítima começa a correr de novo.

O vídeo tem dois minutos e 11 segundos. “Só mostra eu vindo pra cá, não tudo o que fizeram.” Ele conta que parou de ser seguido perto de casa. “Esperei um pouco e voltei correndo para buscar minhas roupas. Não ia chegar pelado. Tenho respeito pelos meus pais.” O homem é solteiro e não tem filhos.

‘Preferia que tivessem me quebrado’

Envergonhado com a repercussão do vídeo, o reciclador afirma que conhece os agressores. “Eles puxam a frente dessa milícia. Tem mais gente junto. Preferia que tivessem me quebrado. Ouço na rua pessoas me chamando de tarado. Outras fazendo gozação. Tenho muitas falhas, mas isso não. Não vou mentir. Uso droga. Só maconha.” O sapiranguense já cogita levar o caso à Polícia. “Não tenho medo de homem, mas respeito uma arma. Pode tirar minha vida. E eles têm várias.” O reciclador nunca foi preso. Tem um indiciamento por furto em 2019 em Sapiranga.

‘Nada a declarar’

O advogado dos investigados, José Carlos Dri, declarou que ele e os clientes não têm conhecimento sobre agressões ao reciclador. “Me disse que desconhece o vídeo e sobre os fatos não vai se manifestar em sede de jornalismo policial. Nada tem a declarar”, comentou o defensor, referindo-se ao suposto líder de milícia.

Delegado diz que vai investigar

O delegado de Sapiranga, Fernando Pires Branco, declara que o fato do vídeo não chegou oficialmente ao conhecimento da Polícia Civil.

“Não há registro de ocorrência. Mas, mediante a notícia, vou determinar a abertura de investigação para apurar o fato”, observa. Os agressores mencionados pelo reciclador estão no grupo de indiciados por atos violentos em cinco inquéritos na cidade desde 2019. Um deles pelos crimes de formação de milícia, tortura e ameaça.

Fonte Jornal NH

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