Técnica em enfermagem de 39 anos, encarregada de cuidar de dois irmãos gêmeos em um condomínio da cidade, teria misturado remédios contra ansiedade ao suco das crianças. Eles ficaram três dias na UTI
Foi um envenenamento, e por pouco não resultou em uma tragédia, a ação de uma babá contra dois meninos de três anos, irmãos gêmeos, em Canoas. A mulher de 39 anos, que cuidava dos meninos em um condomínio da cidade, teria, conforme a polícia, misturado remédios usados para controle da ansiedade ao suco que eles bebiam, no começo de novembro. Intoxicados, eles foram socorridos pela mãe e passaram três dias na UTI do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre.
O laudo laboratorial comprovou que havia benzodiazepínicos no sangue dos meninos. Quase dois meses depois do caso, o delegado Pablo Rocha, da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), de Canoas, tem a convicção da autoria do crime. A mulher, que também trabalha como técnica em enfermagem em uma clínica para recuperação de dependentes químicos, será indiciada por lesão corporal grave, furto de medicamentos e omissão de socorro.
“As imagens das câmeras de monitoramento do prédio foram fundamentais para chegarmos à autoria. Elas registram os meninos visivelmente desorientados, caindo no chão, e ela (a babá) ficou sentada no banco da praça, sem reação. Ela não socorreu as duas crianças”, relata o delegado.
A polícia analisou pouco mais de 30 minutos das imagens registradas no dia em que os meninos foram dopados. E os registros mostram ainda que, ao perceber a gravidade da reação dos dois ao medicamento, a babá resolveu levá-los até a mãe, dentro do apartamento. Mas, ao puxar um dos meninos pela mão, ele cai. Ao invés de socorrer o menino, a mulher o arrasta no chão.
“Quando entra no apartamento, a babá também não socorre os meninos. A primeira coisa que fez foi lavar os dois copinhos deles. Ela estava apagando os vestígios”, acredita Pablo Rocha.
Conforme a apuração da polícia, quem trabalhava normalmente como babá dos meninos era a filha da suspeita. Aquela era a terceira vez que ela a substituía. A suspeita do delegado é de que a mulher não tivesse a intenção de matá-los, mas tenha dopado os meninos como forma de manter os dois quietos por estar cansada. É que ela havia trabalhado na clínica na madrugada anterior.
Em depoimento, ela confirmou ter furtado medicamentos da clínica, mas alegou que as crianças teriam tirado o material da sua bolsa no dia do crime. Não foi o que a polícia constatou ao fazer buscas na casa da suspeita. Lá, os agentes encontraram mais uma quantidade da mesma medicação, esmagada e guardada em uma sacola. A suspeita é de que ela tenha misturado o produto no suco das crianças.
No início da apuração, a técnica em enfermagem não era a única suspeita, mas, conforme o delegado, todas as reações dela reforçaram esta tese.
“A mulher foi junto com a mãe levar os meninos ao hospital, e fez muitas perguntas o tempo inteiro. Não satisfeita, passou a madrugada seguinte enviando mensagens para a mãe das crianças, sempre com muitas perguntas sobre a causa das reações dos meninos. Acreditamos que estava preocupada com o que os exames mostrariam”, diz o delegado.
Ele pretende encerrar o inquérito nos primeiros dias de janeiro.
Fonte: JORNAL NH