Os relatos de agressões eram constantes, conforme conta a moradora de Novo Hamburgo Simone dos Santos Guerin, mãe da jovem assassinada pelo marido na tarde de segunda-feira (24).
A filha, Amanda Guerin Miranda, de 19 anos, tinha dois filhos com o acusado do crime, William Renan de Mello, de 31 anos, conhecido como Ranho.
“A dor que estou sentindo nem sei explicar”, diz a mãe, que descreve Amanda como “uma menina alegre, que cuidava muito bem dos seus filhos e que todo mundo gostava”.
A família, natural de Campo Bom, mudou-se para Novo Hamburgo há quatro anos. O relacionamento de Amanda e William iniciou há dois anos. “Quando eles começaram, eu disse que não aceitava. Ela tinha 17 anos”, lembra Simone. Ela ainda conta que nos primeiros meses William tratava a sua filha bem, mas depois ele mudou.
“Ele era envolvido com venda de drogas, roubo de veículos e outras coisas. Logo começou a maltratar ela.”
Simone relata um episódio em que a filha chegou na casa dela com um olho roxo, após ser agredida pelo marido. “Ela queria ficar aqui, não aguentava mais.
Ele ameaçava ela caso não voltasse para casa. Ele era bem ruim para ela”, diz. “Outra vez, ele agrediu ela e a empurrou. Com a queda, um dos dentes dela entortou”, completa.
Nos dias que antecederam o crime, Amanda falou para a mãe sobre novos desentendimentos do casal e o desejo de sair do relacionamento, que o marido não aceitava. “Eu estava na casa de uma irmã em Lomba Grande quando a irmã do William disse que queria falar comigo, mas teria que ser pessoalmente.
Eu respondi que só estaria em casa à noite e, então, ela falou que teria que me falar por telefone mesmo. Foi quando ela disse: ‘a Amanda morreu’.” Simone conta que a partir desse momento ficou em choque e a irmã teve que continuar a conversa com a cunhada de Amanda pelo telefone. “Porque ele fez isso?”, questiona a mãe da jovem.
A vítima é a quinta filha entre oito irmãos. Há quatro anos, um irmão de Amanda morreu após ser baleado no litoral.
“Aí, mãe. Quero ir embora”
Segundo Simone, as reclamações sobre o casamento eram constantes. A filha contava que era maltratada pelo marido e que não queria mais viver com ele. “Eu dizia para ela ‘vem morar com a mãe, não importa se tu tem um filho, dois, três ou quatro, aqui tem lugar para vocês’. Mas ela tinha medo.”
O irmão Nicolas era o confidente de Amanda. Segundo a mãe deles, os dois conversavam constantemente e ela relatava a ele as agressões sofridas pelo marido.
A delegada responsável pelas investigações, Raquel, da Delegacia Especializada a Mulher de Novo Hamburgo (DEAM), disse nesta terça que, após ouvir testemunhas, concluiu que “a motivação foi ciúmes e um pedido da vítima para que ele saísse de casa.”
Destino dos filhos
O recém-nascido de dois meses e o irmão de um ano e três meses estão com os avós paternos, de acordo com Simone. Ela conta que ainda não teve contato com os familiares de William, mas a sua irmã, tia de Amanda, conversou com eles e acordaram que após os atos fúnebres as crianças ficarão com a avó materna. “É um direito nosso”, afirma.
O velório de Amanda começou no início da noite desta terça-feira (25), em uma sede próxima ao pórtico do Parque do Trabalhador, no bairro Boa Saúde. O corpo será enterrado no Cemitério Municipal às 10 horas da quarta-feira (26).
Relembre o crime
Na tarde de segunda-feira (24), Amanda foi baleada no bairro Primavera e morreu no Hospital Municipal. Ela foi socorrida pelo marido, William, que chegou a ter o carro escoltado pela Guarda Municipal, para agilizar o atendimento.
Ele foi visto pela GM na frente da casa colocando a mulher ensanguentada no veículo por volta das 16h30 e disse aos agentes que ela foi vítima de um assalto. Em nova conversa com o suspeito, os agentes perceberam contradições nos relatos. Voltaram à casa do casal e vizinhos contaram que ele teria atirado em Amanda. Na casa, os guardas encontraram um revólver calibre 38, com munição deflagrada e intactas. A arma foi encaminhada para perícia para averiguar se foi a mesma utilizada no crime.
William foi preso em flagrante por feminicídio. Ele já tinha antecedentes policiais por ameaça, cumprimento de mandado, desacato, direção perigosa, extorsão, furto qualificado, lesão corporal culposa, posse de entorpecentes, roubo de veículos e violação da suspensão do direito de dirigir.
Fonte Jornal NH